Se tomarmos a história da música como um fio condutor em que a harmonia evoluciona de acordo com o ambiente estético e estilístico da época, essa nova “harmonia romântica” precisaria adicionar pitadas de "estranheza" e um certo grau de afastamento do mundo concreto. Assim é que surgem os acordes e os modos alterados, as imprevisíveis cadências de acordes e principalmente o uso mais amplo do cromatismo.
O cromatismo já vinha sendo utilizado desde Bach e até mesmo
antes por compositores renascentistas italianos, mas no Romantismo,
especialmente em Wagner ele se torna parte estrutural da harmonia, um artifício
que no fundo tentava atender aos princípios tipicamente românticos de expressão
dos sentimentos por meio de uma tensão constante. Claro que o Romantismo
enquanto período histórico é bastante plural em suas manifestações. É por isso
que ao mesmo tempo que simultaneamente encontramos um Brahms –fiel seguidor de
Beethoven- encontramos também um Wagner levando o ideal romântico às últimas
consequências.
Especificamente, a harmonia do Romantismo acrescenta novas possibilidades harmônicas. Em contraste com uma harmonia clássica mais clara e simplificada, a harmonia romântica usufrui de uma série de acordes que até seriam estranhos, por assim dizer, à harmonia clássica. Para Brisolla (2008) “Com o desenvolvimento do romantismo, a tonalidade sofre um novo abalo com a revivescência de antigas escalas modais e dos acordes decorrentes do conceito harmônico dessas escalas e, ainda, com a alteração dos acordes tradicionais.”
Já para Koellreuter (1986), “o subjetivismo romântico (...) enriqueceu consideravelmente a harmonia dos compositores clássicos, pela cromatização (...) e pelo uso amiudadamente repetido da modulação, libertando cada vez mais o acorde de sua condição funcional e ampliando, desse modo, o conceito de tonalidade.” O autor entende que é essa dissolução progressiva do tonalismo vai dar origem ao impressionismo e mais tardiamente no dodecafonismo. É justamente essa dilatação tonal no campo da harmonia, essa “estranheza” é que vai originar a 4ֻª lei tonal.
A 4ª lei tonal e o Romantismo
1- Alteração de modo
Um acorde pode ser alterado de maior para menor e
vice-versa, sem prejuízo na manutenção da tonalidade. Nesse caso não se
considera alteração do acorde, mas sim alteração do modo.
2-Acordes oriundos do modo eólio e dórico.
O modo eólio e dórico oferecem novas possibilidades
harmônicas, como por exemplo um dominante menor e seus relativos. É possível realizar alterações cromáticas ascendentes e
descentes em quaisquer alturas em um acorde.
3- Alteração no acorde de Tônica
Como a alteração na fundamental ou quinta do acorde produz
uma mudança de função, só é possível alterar propriamente a terça do acorde.
4- Alteração do acorde de Subdominante
Da mesma forma que no acorde da Tônica, a única alteração
possível ocorre na terça, isto é, alteração de modo.
5- Alteração do acorde de Dominante
Já o acorde da dominante se mostra o mais flexível,
admitindo inúmeras alterações. Apesar disso, a 5ª é geralmente o intervalo mais
alterado nesses acordes.
O que o Romantismo traz em termos de harmonia são novas possibilidades. Apesar disso, tais novas possibilidades não abandonam absolutamente o tonalismo, apenas o expandem de forma significativa, levando seus princípios às últimas consequências. O educador atento, o músico atento vão notar que a percepção desse fato enriquece a experiência musical, trazendo novos universos sonoros à realidade individual dos alunos e do público.
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