segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Da independência de Mãos

O piano é um instrumento pluriforme. Possui uma infinidade de notas que alcançam desde notas graves de um contrabaixo, até as notas mais agudas de um flautim.
Além disso, o piano não exige do instrumentista a manipulação direta das cordas, o que libera  as duas mãos para execução independente.
Por isso, o piano, e todo instrumento de tecla, detém a possibilidade de executar vários ritmos simultaneamente e este é um dos principais problemas para o pianista. 
As dicas abaixo tentam resolver esse grave problema, que é o objeto central, ou pelo menos deveria ser, de todo o método de introdução ao piano.

1- Bella Bartòk - Mikrokosmos

O famoso compositor e professor, Bartòk, escreveu uma série de exercícios para piano visando, inicialmente, o estudo do seu filho, Peter. Posteriormente, o próprio filho publicou os trabalhos organizados de forma gradual, isto é, do mais fácil até o mais difícil. Todo o trabalho está fundamentado na questão da independência de dedos e pode ser abordado por todo pianista, desde os iniciantes até o mais avançado. A grande vantagem é a organização progressiva. 
As peças do método possuem uma sonoridade típica do século XX, como era de se esperar, fundamentada na música folclórica e modal. Por causa disso, pode causar uma certa repugnância aos mais conservadores. Porém, sua preciosidade deve ser observada com cuidado! 
A primeira vista, talvez o método pareça muito simples, contudo, observando os andamentos sugeridos, dinâmica, acentuação e métrica, os resultados obtidos são fenomenais. Ao todo são 157 exercícios para liberar os dedos do pianista.

Exercícios de 1 a 17

2- Bach
Pode parecer ironia, contudo o melhor treinamento para independência de dedos é a obra do compositor J. S. Bach. Como se sabe, o fundamento de sua obra é essencialmente contrapontístico. Ora, o contraponto consiste na simultaneidade de melodias independentes. Deste modo, nada melhor para a independência das mãos que as obras de Bach. Porém, a obra não é sistematicamente didática e nem progressiva. É possível que o iniciante toque alguma das 23 peças fáceis. Talvez, após isso, possa progredir aos prelúdios e fughetas, para depois então, se lançar às invenções a 2 vozes. Deve ainda praticar, invenções a 3 vozes e peças do Cravo bem Temperado, obra que, segundo o grande pianista F. Chopin, é a melhor escola de piano já escrita.


Livro 1 - Prelúdios e Fugas

3- Contraponto
Todo músico possui um instrumento fundamental que é o cérebro, sede da coordenação motora. Como muitas pesquisas na área de neurociência indicam, a associação é poderosa nas questões de coordenação motora. Além disso, se a obra contrapontística para piano é um elemento indispensável para todo pianista, certamente o estudo do contraponto ira ajudá-lo a compreender o seu fundamento, aumentando as associações cerebrais. Obviamente, poucas pessoas são afeiçoadas a prática contrapontística, já que exige uma certa minuciosidade e paciência para dedicar-se. 
Neste link, é possível começar a estudar contraponto hoje mesmo.


4- Birritmia
É pouco divulgado nas casas de ensino tradicionais, os exercícios birrítmicos. Eles consistem em séries de solfejos e leituras rítmicas com 2 linhas melódicas ou rítmicas. Um estudante pode começar pelo método Prince (3 volumes) e depois se lançar ao Hindemith (Treinamento Elementar para Músicos). 
A execução desse tipo de exercício permite uma bela 
Particularmente, nunca encontrei exercícios com mais de 2 linhas rítmicas. Por isso cheguei a escrever algum. Tente executá-lo sem compromisso:

--> Deve-se usar as duas mãos, a voz e um pé para executá-lo.

5- Observação
Exercícios como os escritos por Czerny, Hannon, Crammer são excelentes para  AGILIDADE. Isso não quer dizer que devemos abandoná-los. Porém, se o foco do estudo, no momento, for a independência das mãos, foque um pouco nos autores mencionados. Pratique alguns exercícios escritos por Czerny e vários escritos pelos autores mencionados. A medida que a agilidade passar a ser o objeto primordial do estudo, use o Hannon, Czerny e Crammer.