terça-feira, 19 de abril de 2016

Funções Harmônicas

1- Introdução
Muito se fala em harmonia funcional, mas pouco se define sobre essa matéria.
Como se sabe, historicamente, a junção simultânea de diversas notas recebeu o nome de contraponto.
Porém a medida que essa junção foi se coordenando tendo em vista acordes e um sistema tonal, essa prática passou a ser denominada de harmonia.
Desse modo, harmonia e contraponto passaram a ser duas coisas distintas embora cuidassem da combinação de notas.
Por outro lado, a harmonia pretende também considerar o valor total dessa junção, isto é, um sistema de verticalidades, enquanto o contraponto pretende considerar o aspecto horizontal (melódico) dessas combinações.
Dito de outra forma, é como se o contraponto visasse a união de melodias simultâneas que geram uma verticalidade e a harmonia visasse a sequência de verticalidades que geram melodias simultâneas. Obviamente dito de um ponto de vista bem teórico, pois na prática é bem possível que ambos os conceitos andem juntos.
Então, definitivamente a harmonia é a ciência que estuda as leis que regem o encadeamento de acordes. A finalidade de conhecer essas leis advém da necessidade de entender os procedimentos executados pelos compositores ou de compor peças próprias originais.
Todavia, até meados do século XIX, os manuais e instrutores de harmonia não previam uma descrição da posição que os acordes exerciam dentro da tonalidade, embora os compositores utilizassem essas descrições intuitivamente em suas práticas composicionais.
Foi no final do século XIX que um professor, Hugo Riemann, publicou seu livro sobre funções harmônicas.
Assim, muitos manuais foram publicados sobre harmonia funcional durante todo o século XX. Segundo Ficarelli, uma das características da análise funcional é discriminar o aspecto estético do acorde, que até então ficava apenas implícito nas análises anteriores.
Finalmente, a harmonia funcional consiste no estudo das leis do encadeamento de acordes tomando a função dos acordes como ponto-de-vista.

2- Funções harmônicas
A música é sempre regida por princípios de relaxamento e tensão. Tais princípios são válidos para o ritmo, para a harmonia, para a melodia e para todos os outros elementos musicais. Também os acordes podem ser encarados sob esse prima, isto é, podem produzir tensão ou relaxamento de acordo com a sua posição na hierarquia do sistema tonal.
Desse modo, Riemann identificou 3 funções harmônicas:

  • Tônica: função de estabilidade
  • Subdominante: função intermediária
  • Dominante: função de instabilidade
Apesar da existência de apenas três grupos funcionais, muito mais acordes exercem seus significados no contexto tonal. Por isso, cada função comporta mais de um acorde.
Em geral, a tônica é sempre o primeiro grau de uma certa tonalidade, a subdominante é o quarto grau e a dominante o quinto grau.

3- Outros graus
As funções previstas podem acomodar até 3 acordes diferentes. Assim, teremos também a seguintes funções:
  • Tônica relativa/Tônica anti-relativa
  • Sudominante relativa/Subdominante anti-relativa
  • Dominante relativa/Dominante anti-relativa

A função relativa sempre se encontra uma terça abaixo da função original. E a função anti-relativa uma terça acima. Desse modo, o acorde do VI grau é tônica relativa e o acorde do III grau é a tônica anti-relativa.
Ademais, um mesmo acorde pode comportar duas funções de acordo com o contexto em que está inserido. Por isso o acorde do terceiro grau pode ser considerado, às vezes, como acorde dominante anti-relativo.

A seguir, uma pequena demonstração das funções harmônicas na tonalidade de dó maior.


O acorde do VII grau é interpretado como um acorde dominante sem fundamental por possuir a característica essencial ao acorde dominante, que é a presença do trítono. Os acordes híbridos, com mais de uma análise funcional possível receberam dois símbolos diferentes, eles são apenas 2.

4- Bibliografia
Cyro Brisolla - Princípios de Harmonia Funcional
Hugo Riemann - Harmony Simplified
Ian Guest - Harmonia: Método Prático
Fabio Adour da Camara - Sobre Harmonia: Uma proposta de Perfil Conceitual