terça-feira, 1 de novembro de 2011

Contraponto - Introdução

1- Introdução
     Como bem sabemos todos, a música tem por elementos constitutivos a melodia, o ritmo e a harmonia. Todavia somente no barroco é que a harmonia começa a ganhar força como sentido independente do discurso musical e somente no século XX é que o ritmo ganha o mesmo papel. Contudo levando em conta as músicas européias primordiais, devemos saber que elas eram puramente melódicas com algum acompanhamento ou outros, mas que não se justicavam por si só. Somente com o advento do discantus é que teremos a melodia com uma segunda intenção melódica paralela que se justificasse por si só. 
Quando finalmente essa música já estava teoricamente estruturada, os teóricos fundamentaram um estudo chamado contraponto, que hoje muitos entendem por uma 'harmonia primitiva'. 

2- Contraponto: definição
O contraponto é muito mais do que simplesmente combinar notas harmonicamente. É antes de tudo, combinar melodias independentemente. 

  • Contraponto: ato de combinar melodias independentemente.
A palavra independente é importante, pois não é qualquer melodia que pode ser adaptada em paralelo a outra de forma que fique independente. Por isso seguirão inúmeras diretrizes que orientam o contrapontista a criar a obra.

3- As espécies 
Apesar de a prática contrapontística já estivesse bem estruturada e bem estudada com inúmeros tratados e manuais, foi no século 18 que um alemão criou um método didático para ensinar contraponto. J. Fux após estudar cuidadosamente as obras de Palestrina, organizou um método chamado "Gradus ad Parnasus" ou Passos para o Parnaso, aonde ele dividia as possibilidades rítmicas do contraponto em espécie. 
Primeiramente, ele analisa a possibilidade de se organizar nota contra nota. Posteriormente, analisa a possibilidade de se combinar duas notas contra uma nota e em terceiro analisa a possibilidade de se combinar 4 notas contra 4 notas. Finalmente analisa um tipo de contraponto em contratempo para depois criar o que chama de contraponto florido: a reunião de todas as espécies anteriores.
Contudo é preciso observar que o procedimento de Fux é totalmente didático sem finalidade prática. Seu tratado constitui ainda hoje uma referência ao estudo de contraponto para inúmeros músicos.

4- Conclusão 
Devido sua importância acadêmica, o estudo detalhado das espécies será  feito aos poucos por mim no blog.




terça-feira, 25 de outubro de 2011

Da Fantasia


1- Introdução
Antes do desenvolvimento da Fuga, existiam diversos procedimentos imitativos que seguiam a uma forma livre. Tais eram o “Tiento”, “Ricercare”, “Capricho”, “Fantasia” e “Moteto”.[1] A medida que o Ricercare e o Moteto foram dando origem a Fuga com sua forma bem definida, as outras formas passaram a ter procedimentos formais distintos da Fuga.

2- Definição
Segundo Giulio Bas, a Fantasia é uma composição que não segue nenhuma das formas tradicionais. [2] Mas isso não significa, explica o autor, que seja desprovida de toda a forma. É apenas uma forma livre.
É muito utilizada na prática de improvisação, aonde os temas se alternam numa forma não-prevista pelo improvisador.

3- Prática
A construção de uma fantasia exige um domínio grande das formas musicais, pois embora seja uma forma livre, é necessário o equilíbrio e o contraste entre os temas, andamentos e tempos. É comum a recorrência ao(s) temas principais no decorrer da peça com a finalidade de prover unidade e a alternância de temperamento na peça.
Ainda, a Fantasia pode ter duas funções distintas:
  • Caráter Independente: Quando se desenvolve por si só.
  • Caráter preparatório: Quando introduz uma outra peça, como a Fantasia e Fuga de Bach.
4- Exemplo de Fantasia Baseada na Forma Rondò











Obs.: Exemplo dado por M. Ficarelli em sua aula particular em 22/10/2011.

5- Exemplos Musicais

J. S. Bach – Fantasia em Sol menor para Órgão BWV 542


 W. A. Mozart – Fantasia em Dó menor para Piano K 475



F. Schubert - Wanderer Fantasia em Dó Maior op 15


 F. Chopin – Fantasia para piano em Fá maior op 49



6- Bibliografia:
[1] Zamacóis, Joaquin – Curso de Formas Musicales; pág 58, § 54.
[2] Bas, Giulio – Tratado de la Forma Musical; pág 325, § 214

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sobre o modo de estudar música


Baseado no opúsculo filosófico de
S. Tomás de Aquino “Sobre o Modo de Estudar”

1- Devemos fazer as coisas fáceis primeiro.
Muitas vezes o iniciante vem ávido por conhecimento e quer desde já aprender as
coisas difíceis. Mas as coisas complexas são agrupamentos de diversas coisas
simples, por isso é necessário aprender as coisas simples antes. O aluno ansioso que
tenta dominar o complexo logo no início, acaba por não aprender nem o fácil nem o
difícil, muitas vezes ocasinando sua desistência do estudo.

2- Não dar opinião sem conhecer
Quando acreditamos conhecer certo assunto, nos fechamos a ponto de não o
aprendermos , afinal na nossa “crença”, já entendemos daquilo. Resultado: Não
aprendermos as coisas.

3- Pureza de consciência
É preciso ser sincero consigo mesmo e admitir se conhece um assunto ou não.
Somente a sinceridade permitirá que se conserte os erros reconhecidos e se pratique
os acertos reconhecidos.

4- Oração
A oração consiste em dar glórias a Deus, reconhecendo sua soberania e nossa
pequenez. Quem não dá glória a Deus é proque no fundo julga-se maior do que
realmente é, e, sendo assim, como pode aprender? O sabichão não aprende.
Além disso, toda a sabedoria do homem provém da graça divina. Como um homem
pode acreditar que aprendeu pelos próprios esforços se sua inteligência não passa de
um reflexo da inteligência de Deus?

5- É preciso ter amor ao recolhimento
Muitos músicos grandiosos se trancavam por horas em um quarto para estudar e
assim adquiriram enorme habilidade. Mas para isso, tiveram que renunciar a
inúmeras coisas atraentes como a TV, o jogo, a bebida, a conversa, o namoro etc.

6- Amabilidade
Quem trata aos outros com desamor, acaba por tratar a si mesmo com desamor. Quem
não ama nem a si nem ao outro não quer o bem deles. O conhecimento é um bem que
devemos desejar a si e aos outros. Além do mais, a humildade necessária para amar o
outro é o que nos faz reconhecer nossos defeitos e nos abre a possibilidade de
consertá-los. Por isso não nos apressemos em falar mal da técnica violonística dos
amigos, mas cuidemos para melhorar a nossa.

7- Imitação dos bons exemplos
Os grandes músicos nos servem de exemplo. Bach passava horas acopiando músicas
à mão para que pudesse entender a técnica musical. Steeve Vao só se permitia ir ao
banheiro, comer ou beber água quando conseguia concretizar uma determinada
técnica. Esses comportamentos os conduziram ao grande patamar que hoje ocupam.
Imitemo-los.

8- Muitas vezes prestamos atenção naquela pessoa que diz algo. Se tal pessoa não nos
inspira confiança, imediatamente nos fechamos para suas palavras, algumas vezes
verdadeiras. E assim deixamos de aprender.

9- Entender completamente o que se lê e ouve.
Se a aula de hoje foi sobre escalas, devemos nos certificar de que entendemos tudo
que nos foi explicado. As dúvidas poderão ser esclarecidas pelo professor. Se lemos
algo rapidamente sem entender, perdemos a chance de aprender.

10- Averiguar constantemente se há dúvidas e se elas podem ser solucionadas com o
professor ou com leitura e estudo.

11- Controlar a curiosidade desordenada
Muitas vezes questionamos o que não entendemos. Outras vezes questionamos coisas
que não podem ser esclarecidas imediatamente. Não questione coisas que no
momento não pode entender.

12- Controlar a curiosidade II
Uma pessoa queria conhecer a Grécia. No meio do caminho para a Grécia, encontrou
a Suíça e por curiosidade decidiu conhecê-la. Chegando a Suíça e vendo que a língua
era diferente, resolveu estudá-la. No final não conheceu nem a Grécia, nem a Suíça e
nem a língua e o tempo se passou.

13- Não discutir sobre as coisas para não perder tempo.
Quando ao invés de estudar começamos a discutir, deixamos de aprender. Por isso
devemos evitar a discussão e principalmente e discussão vã.

14- Não se familiarizar
Uma pessoa que passa boa parte do seu tempo conversando, visitando amigos e festas
, deixa de estudar. Por isso não devemos nos apegar as pessoas demasiadamente a
ponto de nos prejudicar. Quantas vezes entramos na internet para ficarmos horas
conversando com os amigos e deixamos de aprender por causa disso?


Bibliografia:
http://www.hottopos.com/mp3/de_modo_studendi.htm

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Porque Teoria Musical?



1-Introdução
Recentemente tenho recebido muitas queixas de alunos que me perguntam o porque da teoria musical. A pergunta embora me pareça sem cabimento, tem sido um dos motivos de desistência nos últimos meses.
Explicarei meu pensamento a cerca dessa postura.

2- A leitura
Toda ciência tem seu próprio objeto do conhecimento. Como os objetos são diferentes para cada ciência, convém que cada uma se exponha em uma forma simbólica própria. Assim é que a matemática tem seus símbolos próprios adequados ao seu estudo, a língua dispõe da escrita para sua estrutura.
A música não poderia ser diferente. Foi apenas pelo advento da escrita musical que muitas obras se preservaram no tempo e é principalmente por meio da escrita que a música pode ser divulgada paras os instrumentistas ao redor do mundo.

3- O símbolo
Qualquer símbolo representa uma idéia. Com o símbolo musical não poderia ser diferente. Conhecer os símbolos musicais é um meio de se conhecer as idéias musicais como ritmo, nota, intensidade, dinâmica etc de forma precisa e objetivo. Algo que seria muito difícil ignorando o aprendizado desses símbolos.
Na língua não pode ser diferente. Tanto é que a criança só pode aprender a falar melhor e corretamente após o aprendizado da escrita linguística, a alfabetização. Por isso pode-se equiparar um músico que não conhece a partitura a um poeta analfabeto.
Até mesmo a idéia é um símbolo, um símbolo mental de uma realidade. Tendo no símbolo uma ponte entre o real e a inteligência, pode-se facilitar o aprendizado das coisas.

4- A partitura é algo que somente os músicos profissionais devem aprender?
Não. A partitura não é algo de nível profissional, assim como o Curso de Alfabetização não prepara um indivíduo para o ensino da língua. A partitura é algo elementar no início do aprendizado musical e ignorar seu aprendizado é ignorar a estruturação da própria música. A música, como qualquer outra arte ou ciência, consiste numa série de elementos como harmonia, fraseologia, esturturaçao formal etc, que vão muito além da simples leitura musical

5- A partitura como meio de conhecimento
Depois que a criança aprende a ler, fica livre para ler qualquer livro e aprender outras coisas. Da mesma forma acontece com a leitura da partitura. Depois de aprender a ler música, o estudante fica apto para ler sobre música, bem como ler e aprender por conta própria músicas novas.

6- A partitura como meio de expressão
Depois que aprende a escrever, a criança está apta para expressar suas idéias por meio da escrita e registrá-las num meio de informação como o papel. Assim, depois que o estudante de música aprende a escrever, está apto a divulgar suas próprias idéias. Lembro-me claramente de como uma amiga minha de ensino médio me ensinou uma música de Bach, por meio de um pedaço de papel que levei para casa e toquei. Isso não seria possível para a pessoa que não lê.

7- A experiência
Depois de um tempo lecionando música, pude perceber que os alunos que tiveram as aulas de leitura e estruturação musical puderam ter um aprendizado mais sólido e consequentemente uma técnica mais apurada. Aqueles que passaram anos aprendendo a tocar sem sequer aprender a ler, tiveram sua evolução interrompida por conta da própria limitação que é não saber simbolizar certas idéias e não poder apreender certas idéias através de símbolos.

8- Conclusão
Embora possa parecer enfadonho, o ensino da leitura e escrita de partituras é imprescindível a uma formação musical sólida, ainda que básica.




segunda-feira, 20 de junho de 2011

sábado, 21 de maio de 2011

Adoramus te Christe

Nesta seção, estarei publicando uma edição da obra seguinte obra de Palestrina:



Como dizem, Palestrina foi o auge do Contraponto Modal. Sua técnica está bem descrita no livro "The Style of Palestrina" da autoria de Knud Jeppessen.

Com o objetivo de estudo, escrevi a obra para uma partitura mais limpa que o scanned que encontrei.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Joaquim Callado - Flor Amorosa

Dizem que essa música música foi escrita em homenagem à Chiquinha Gonzaga, então fiz um arranjo para família das Clarinetas contendo 1 clarineta em Mib(requinta), 1 clarineta em Sib, 1 clarineta em Lá e um Clarone. A maior dificuldade foi enfrentar as diferentes transposições de cada instrumento, sendo que a requinta soa uma terça menor acima, o clarinete em Sib soa uma segunda maior abaixo, o clarinete em Lá soa uma terça menor abaixo e o clarone nada mais nada menos que uma nona maior abaixo. Apesar disso , a harmonia é bastante simples. A forma básica do choro é AA-BB-A-CC - A, contudo rompi com a estrutura original, expondo A-B-C - desenvolvimento - e reexpondo A. No pequeno desenvolvimento eu sobrepus os dois temas B e C. Espero que gostem.





Clarone - Raphael Mello
Clarinete - Wesley
Clarinete - Tamires
Clarinete - Rafael


Segue aqui um link para um breve biografia do Callado .





quarta-feira, 11 de maio de 2011

1x0

Hoje estarei publicando um arranjo finalizado semana retrasada. A música 1 x 0 de Pixinguinha foi instrumentada para 4 flautas. A dificuldade maior foi em criar a parte de baixo da música, uma vez que as flautas soam bem mais nas suas oitavas mais agudas. Além disso, devido ao caráter altamente movimentado da melodia principal, foi realmente difícil escrever partes secundárias melodiosas. O terceiro problema foi a introdução de cromatismos que muitas vezes não apareciam na harmonia principal.





quinta-feira, 31 de março de 2011

Arranjos para 2 oboés e arranjo para 2 vozes

Olá. Hoje estarei publicando dois arranjos meus recentes.
O primeiro é um arranjo da sétima invenção à duas vozes de Bach para dois oboés. A dificuldade maior se encontrou no fato de ter que transcrever a melodia para um instrumento com extensão melódica bem menor que os instrumentos de teclado. Além do mais encontrei dificuldades em transcrever o baixo original da invenção para uma melodia aguda sem que tal melodia se embolasse por demasia com a outra.
A segunda é um arranjo de um trecho do Sanctus da "Missa Hercules Dux Ferrariae" de Josquin Desprez, eu apenas adaptei o trecho "Pleni Sunt in Coeli" , originalmente construído para duas vozes masculinas para uma voz masculina e feminina. Para tal foi só transcrever a parte aguda 1 oitava acima da original.