domingo, 8 de junho de 2014

Como compor II

1- Introdução
Tendo a base harmônica já estipulada, deve-se criar uma ideia melódica e rítmica.

2-Determinação do motivo
A finalidade de se criar um motivo é determinar unidade à peça. Permeando o motivo pela peça, tem-se a impressão de uma peça bastante simples com facilidade de entendimento. Apesar disso, não é raro que os compositores se utilizem de mais de um motivo pela peça, principalmente quando ela é uma peça de grande vulto. Este pequeno minueto não deve durar muito, por isso é preciso ter em conta que a escolha de muita variedade motívica pode causar a falta de unidade da peça.
Quanto a questão melódica, nada é mais fácil de se estabelecer para um iniciante do que uma melodia fundamentada em arpejos, uma vez que já se tem a harmonia definida. Claro que os compositores experientes podem se servir de outras formas, como compor a melodia primeiro e harmonizá-la depois ou até mesmo compor simultaneamente as duas coisas, com o objetivo de formar uma concepção de "todo" sobre a obra.

O simples motivo acima faz um arpegio sobre a tônica e oferece 2 figuras musicais diferentes - colcheia e semínima - , o que facilita o seu reaproveitamento na variação melódica. Contudo, tal motivo se mostra muito comum: um arpegio ascendente. Uma ideia para tornar os arpegios mais interessantes é modificar a ordem das notas em vez de apresentá-las todas descendentemente ou ascendentemente.  Por isso, vamos utilizar o motivo da maneira que segue abaixo.


3- Desenvolvimento do motivo inicial
De posse desse motivo, basta distribuí-los sobre os acordes conforme suas notas.

No quarto compasso acontece um final de frase, um repouso, uma respiração. Por isso as figuras utilizadas são mais longas e diferentes do motivo, o que até pode servir de contraste para evitar a monotonia e repetição. Do mesmo modo, no sétimo compasso há uma tercina que lembra o motivo inicial e se apresenta como uma variação rítmica do mesmo. Além disso, na segunda frase os arpegios são utilizados de forma ascendente.

Observe que a peça começa num registro relativamente agudo e vem descendo até chegar no fá do quarto compasso. Toda escala descendente pode ser percebida como um relaxamento da tensão. Por isso após esse momento de relaxamento, começa-se a imprimir uma subida para contrastar com a frase anterior. Caso contrário, a peça ficaria muito frouxa e perderia o interesse do ouvinte. Outra interessante questão é a escolha da articulação correta, que neste caso ficou determinado pela ligadura das colcheias.

Com oito compassos está pronto o primeiro período que funcionará como seção A da obra.

4- Seção B
A seção B precisa oferecer uma variabilidade em relação à seção A ao mesmo tempo que engendra unidade. Para tal, basta aproveitar o motivo inicial e construir uma modulação ou marcha harmônica, o que funcionará como oferta de unidade e variedade respectivamente.




5- Reexposição da seção A
Como a seção A termina no acorde da dominante, ela fica sem um final estático, bem estabelecido. O final de toda música deve terminar com um acorde de tônica, ao menos academicamente falando. O acorde de tônica oferece a estabilidade necessária para se realizar o repouso final da peça. Deste modo, a seção A deverá ser ligeiramente modificada em termos de harmonização para oferecer essa finalização.
Neste caso, apenas se repetiu a primeira frase, o que engendra bastante unidade ao período.

6- Contracanto
Para que o acompanhamento seja agradável é preciso que os acordes tenham algum movimento. Algo delicado que não tenha tanta importância quanto a melodia, mas que funcione como um bom apoio a ela, conferindo-lhe destaque. Faremos isso com um contra-canto baseado nos acordes. Para tal, basta utilizar-se de notas de passagem ou arpegios delicados, sem notas muito rápidas.
Quando se fala em acompanhamento e contracanto, tem-se uma abordagem diferente da contrapontística, em que todas as linhas melódicas possuem a mesma importância. No caso das peças clássicas, não é comum o uso recursivo do estilo contrapontístico, salvo exceções e trechos de obra de grande vulto.

7- Revelação
Como se pôde observar, a música não é uma composição inédita, mas sim uma peça de Mozart muito delicada. No video abaixo pode-se acompanhá-la pelo som. Bom proveito!